Ele caminhou pelos corredores, seus passos seguindo na direção do quarto de Perséfone. Mesmo com tantos aposentos subutilizados no castelo e as paredes tão pouco adornadas que era fácil se perder, com milênios de moradia ali, já sabia cada pequeno espaço do seu domínio, tanto entre as paredes quanto fora, pelos campos criados para os que estavam no além-vida.
O aposento de Perséfone tinha somente alguns meses, porém. Não fazia realmente parte do castelo inicialmente. Depois de seu pedido ter sido negado por Deméter, sua intratável irmã, teve de planejar como tirar a única filha dela debaixo da saia e tinha ficado meses planejando e construindo coisas para a estada de sua futura esposa em seus domínios.
Sem bater, somente destrancando a porta e adentrando o aposento, observou a pequena Deusa encolhida entre os lençóis negros. O aposento não era alegre ou bonito como o que ela possuía no Olimpo, mas tinha feito o possível para que ele não parecesse tão diferente. O armário de mogno, a cama, o criado-mudo e mesmo a posição das portas eram iguais as do quarto dele. Era como uma réplica sombria.
Fechou a porta, assim que passou o batente. Podia ser o Senhor do Submundo, mas realmente não sabia como tentar contato com Perséfone, era uma falha no seu plano que não tinha visto. Aproximou-se devagar, silencioso como uma sombra. Ela era como um pequena mancha colorida no meio dos móveis escuros. Ele também sentia como ela pulsava de energia viva, o perfume de primavera que emanava dos seus cabelos. Não deixaria que ela fugisse. Ela era sua, seria sua esposa, de um jeito ou de outro.